Diego Velázquez, As Meninas

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Diego Velázquez, As Meninas
Óleo sobre tela, 318 x 276 cm, c. 1656


Em 1623, Diego Velázquez foi nomeado pintor da Família Real de Espanha e data de 1656 a pintura As Meninas. Esta é um retrato múltiplo: a Infanta Margarida (de vestido branco), ladeada, por doña Isabel de Velasco (à direita) e por doña María Agustina Sarmiento de Sotomayor (à esquerda). Mais para a direita, junto do cão, surgem Maria Barbola e Nicolas Pertusato. Ainda à direita da pintura, mas um pouco para trás, aparecem doña Marcela de Ulloa e um guardadamas não identificado. Ao fundo, à porta, surge Don José Nieto Velázquez (camareiro da rainha) e, à sua esquerda, numa posição aproximadamente central, vemos um espelho com os reflexos do rei Filipe IV (Filipe III de Portugal) e da rainha Mariana de Áustria. Temos ainda, à esquerda, um auto-retrato de Diego Velázquez.

Nesta pintura, Velázquez olha para um ponto situado no exterior da pintura, para o lugar onde estaria o casal real que seria o mesmo lugar do observador da pintura (cada um de nós). Além disso, nós (o observador) olhamos para o reflexo daquilo que Velázquez via. A grande tela que Velázquez tem diante de si poderá ser a que temos diante de nós, querendo isto dizer que ele representou-se enquanto pintava As Meninas. Apesar deste jogo de olhares, o que temos aqui, poderá ser um momento que Velázquez captou e o que vemos é esse mesmo momento. Poderá ter acontecido algo no exterior da cena, originando que Velázquez parasse de pintar e olhasse, tal como acontece com outras figuras. Podemos supor que o camareiro da rainha poderá ter chegado para informar o casal real de algum assunto de importância, o que provocou uma interrupção súbita no trabalho pictórico, originando uma breve pausa durante a qual doña Marcela de Ulloa troca algumas palavras com o guardadamas a seu lado.

Mas levanta-se aqui uma outra questão e esta sim, importante: o que está, de facto, Velázquez a pintar? E se for o casal real o retratado? Nesse caso, a tarefa de Velázquez é pintar o rei Filipe IV e a rainha Mariana de Áustria, que surgem reflectidos num espelho na parede do fundo, estando todas as outras personagens diante do casal real, observando-o, mas fora do alcance directo de Diego Velázquez, que apenas os vê surgidos, como se fossem o reflexo num espelho.

Levantam-se, nesta pintura, questões sobre a realidade, a ilusão e a reflexão e somos ainda convidados a observar o espaço tridimensional em que Velázquez se encontrava. O ponto de fuga desta intricada composição situa-se no braço do homem que surge à porta, uma posição que podemos encontrar seguindo a direcção da mão de Velázquez que segura a paleta e a posição do corpo de doña Isabel de Velasco (à direita da Infanta Margarida).

Têm sido várias as teorias avançadas sobre esta pintura que tem sido alvo de estudos aprofundados. Os pontos debatidos nessas teorias recaem não só sobre a nossa posição enquanto observadores (que poderá não ser, afinal, o lugar onde se encontra o casal real), como também sobre o que, de facto, acontece nesta cena, ou ainda sobre os principais pontos focais (a Infanta Margarida, o casal real e Diego Velázquez) que envolvem, cada um deles, um conjunto diferente de relações composicionais.


Origem da imagem: Museo Nacional del Prado

Autor do texto: Nuno Bastos


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